domingo, 1 de setembro de 2013

Tarcísio Pugliese, treinador do Guarani, em entrevista ao UNIVERSIDADE DO FUTEBOL

"Dirigente que demite treinador também demonstra que errou", diz

Tarcísio Pugliese faz parte de uma nova geração de treinadores no Brasil que começaram a ter mais oportunidades no futebol brasileiro e que têm realizado trabalhos de destaques dentro das quatro linhas.
Atual comandante do Guarani, único time ainda invicto na Série C do Campeonato Brasileiro, Pugliese sabia desde os tempos que cursava Educação Física na Unicamp que pretendia ser técnico após sua formação acadêmica.
E, com apenas dois anos de experiência como treinador, o novato profissional já mostrou as suas qualidades após o título do Campeonato Mato-Grossense quando comandou o Luverdense.
Mas, apesar das suas ricas experiências e da boa formação, o treinador de 34 anos diz acreditar que sua profissão vai evoluir somente quando o conhecimento estiver difundido em toda a sua classe profissional.
"Eu acho que a formação acadêmica ajuda bastante. A teoria te dá uma boa base de conhecimento que depois ajuda a você conseguir passar para a prática. Ela ajuda no dia a dia mesmo. Acredito que seja importante tentar se realizar cursos acessíveis para todos, já que muitos profissionais não têm acesso à faculdade, não consegue passar por uma formação adequada. Então, é importante facilitar isso para quem não teve essa oportunidade de adquirir esse conhecimento", afirmou Tarcísio Pugliese, em entrevista exclusiva à Universidade do Futebol.
O jovem técnico já passou por clubes como Guaçuano, Novo Horizonte-GO, Rio Branco-AC, São José-SP, Nacional-AM, Icasa, Oeste e Caldense. Após sete anos de sua estreia, recebeu o convite para trabalhar no Guarani, o grande desafio da sua carreira até o momento.
Porém, Pugliese afirma, no entanto, que as dificuldades de já ter trabalhado em clubes pequenos de muitos estados do país e em diversas divisões de acesso contribuiu muito para o seu aprendizado.
"Eu acho que a experiência [de disputar a Série C] é fantástica tanto para mim quanto para os atletas. Eu passei e vivenciei situações bem difíceis em minha carreira. E penso que isso te faz valorizar algumas coisas depois. A Série C do Campeonato Brasileiro até está mais valorizada atualmente, está mais competitiva do que já foi um dia, há transmissão de televisão, enfim, a forma está cada vez mais próxima da realidade de uma Série A nacional. Mas, ainda é uma competição desgastante, com viagens muito longas e os clubes desta divisão ainda têm muitas dificuldades financeiras", analisou.
Nesta entrevista exclusiva, Pugliese ainda falou como faz para se atualizar em relação às novas demandas de treinamento e ideias de futebol e quais os maiores problemas do futebol brasileiro. Confira:

Universidade do Futebol – Como você se preparou para assumir o atual cargo no Guarani? Como se atualiza em relação às novas demandas de treinamento e ideias de futebol? A Federação Paulista de Futebol e/ou a CBF conferem algum tipo de suporte?
Tarcisio Pugliese – Então, eu sou formado em Educação Física e sempre quis atuar como treinador, mas comecei como preparador físico, passando por Nacional do Amazonas, Águas de Lindóia, Guaratinguetá e Americano do Rio de Janeiro.
Em 2006, comecei como treinador no Guaçuano, depois fui para o Acre, participei por duas vezes da Série A-2 do Campeonato Paulista pelo São José, também fiz uma boa campanha na Caldense, enfim. Além disso, procuro assistir a muitos jogos de outros campeonatos, principalmente, da Europa. Assino também revistas internacionais sobre treinamento e leio bastante coisa na internet.
Já em relação às entidades citadas, eu nunca fui atrás para saber sobre isso. Eu acompanho de longe, sei que a Federação Paulista promove alguns cursos. Mas nunca houve uma aproximação.

Procuro assistir a muitos jogos de outros campeonatos, principalmente, da Europa. Assino também revistas internacionais sobre treinamento e leio bastante coisa na internet, aponta.

Universidade do Futebol – No Brasil, cada vez mais se acirram as discussões acerca da capacitação profissional para exercer a função de técnico de futebol. De um lado, graduados em Educação Física prendem-se no conhecimento acadêmico para questionar treinadores que são ex-atletas profissionais da modalidade e que, por sua vez, os ex-atletas justificam a experiência prática adquirida como indispensável para o exercício da profissão. Qual é a sua posição em relação a esta questão?
Tarcisio Pugliese – Eu acho que a formação acadêmica ajuda bastante. A teoria te dá uma boa base de conhecimento que depois ajuda a você conseguir passar para a prática. Ela ajuda no dia a dia mesmo. Mas, em geral, não tenho uma opinião formada sobre isso.
Acredito que seja importante tentar se realizar cursos acessíveis para todos, já que muitos profissionais não têm acesso à faculdade, não consegue passar por uma formação adequada. Então, é importante facilitar isso para quem não teve essa oportunidade de adquirir esse conhecimento.

Acredito que em todas as metodologias há aspectos positivos e negativos. Eu tenho o meu método, a minha metodologia, afirma o treinador do Guarani

Universidade do Futebol – Hoje em dia, em sua opinião, quais os principais fatores que definem o resultado de uma partida?
Tarcisio Pugliese – Acredito que são vários os fatores que definem um resultado no jogo. A qualidade dos atletas é um deles, a qualidade do trabalho é outro. Dentro do modelo de jogo, há questões táticas, técnicas, físicas, psicológicas, que influenciam diretamente também neste processo. É muito amplo, são muitos motivos.
Há também as questões fora do campo, como infraestrutura, condições de trabalho que é oferecida aos profissionais, alimentação, etc. Então, depende muito das coisas do dia a dia e das pessoas que estão no clube.
Universidade do Futebol – Em seu dia a dia, como faz para avaliar a evolução de sua equipe em treinamentos e jogos? Quais informações julga importante um treinador extrair de uma partida?
Tarcisio Pugliese – Nos treinamentos, usamos o GPS para ver qual distância cada jogador percorreu, para mensurar a densidade dos treinos, se as ações foram intensas, deslocamento, enfim, quantificar todos estes aspectos para ajudar nas análises e consequentemente nas conclusões que chegamos. Além disso, vemos a habilidade de cada um e se tenho uma equipe que está executando o modelo de jogo corretamente.


Para Pugliese, a formação acadêmica ajuda bastante, pois a teoria dá uma boa base de conhecimento que depois ajuda o treinador a conseguir impor a prática
Universidade do Futebol – Qual a metodologia utilizada por você e sua comissão técnica?
Tarcisio Pugliese – Então, eu talvez não consiga saber te dar um nome específico ou próprio para a metodologia que eu utilizo. O que eu sei é que é uma forma mais integrada. Mas, acredito que em todas as metodologias há aspectos positivos e negativos.
Eu tenho o meu método, a minha metodologia. Procuro integrar mais os aspectos físicos, técnicos, táticos e até psicológicos, mas também penso que tem coisas nas metodologias tradicionais que são importantes e também utilizo.
Um diretor que opta pela demissão do treinador também demonstra que ele se equivocou. Quando você contrata um técnico de futebol é preciso saber qual o tipo de trabalho dele, qual o perfil dele, quais as suas características, enfim. E daí ver se tudo isso se enquadra no que você quer, aponta o jovem profissional
Universidade do Futebol – O tempo que se tem para mostrar resultado no futebol brasileiro é extremamente escasso. Como você vê a sua atuação do profissional diante desta realidade?
Tarcisio Pugliese – Eu acho que isso depende de como você vai agir nestes momentos. É preciso nós, treinadores, sabermos nos adaptar a esta realidade do futebol brasileiro. Mas, independentemente disso, eu sou contra essa cultura de dirigente demitir um técnico sem dar um tempo suficiente para que se faça uma avaliação melhor sobre o trabalho realizado.
E, vou além. Para mim, um diretor que opta pela demissão do treinador também demonstra que ele se equivocou. Quando você contrata um técnico de futebol é preciso saber qual o tipo de trabalho dele, qual o perfil dele, quais as suas características, enfim. E daí ver se tudo isso se enquadra no que você quer. Por isso, é sem sentido mudar a decisão de uma contratação por causa de poucos resultados. O futebol aqui no Brasil é muito imediatista ainda. E acredito que ficamos para trás no cenário do futebol mundial por causa disso. A lógica não é essa.
Vejo muitos dirigentes às vezes justificando as demissões para buscar uma motivação nova no elenco. Até acho que, culturalmente, essa questão [da motivação] é muito forte no futebol brasileiro. Mas, a gente que lida com o atleta sabe que não é bem assim. O jogador é profissional, também quer atingir seus objetivos na carreira, ser reconhecido, independentemente de qualquer coisa.
Então, acho que a motivação é supervalorizada no nosso país. Você consegue até impor um gás extra no time durante um período curto, mas não vai ser um benefício por um longo prazo.
Eu acho que a experiência de jogar uma Série C é fantástica tanto para mim quanto para os atletas. Eu passei e vivenciei situações bem difíceis em minha carreira. E penso que isso te faz valorizar algumas coisas depois, avalia

Universidade do Futebol – Em relação às peculiaridades de se planejar estrategicamente um grupo para a disputa de uma Série C. Quais são as principais dificuldades (em termos de confronto técnico, estrutura de trabalho, transporte, etc) e o que isso pode significar em termos de aprendizado a você e aos jogadores?
Tarcisio Pugliese – Eu acho que a experiência é fantástica tanto para mim quanto para os atletas. Eu passei e vivenciei situações bem difíceis em minha carreira. E penso que isso te faz valorizar algumas coisas depois.
A Série C do Campeonato Brasileiro até está mais valorizada atualmente, está mais competitiva do que já foi um dia, há transmissão de televisão, enfim, a forma está cada vez mais próxima da realidade de uma Série A nacional.
Mas, ainda é uma competição desgastante, com viagens muito longas e os clubes desta divisão ainda têm muitas dificuldades financeiras. Para os jogadores, lidar com essas dificuldades também é importante para suas evoluções.
Minha relação com os jogadores é muito próxima. Converso muito com os atletas individualmente e com o grupo em geral. Também procuro escutar muito também, revela
Universidade do Futebol – Como você estabelece os papéis e as responsabilidades dos atletas no grupo de trabalho?
Tarcisio Pugliese – Eu procuro ser bem transparente. Avaliar qual a situação, quais os objetivos, entender a dificuldade dentro do elenco. Mas, sou um profissional que cobro bastante também. Sabemos que o Guarani é um clube de Série A, mas, que está em uma realidade de Série C, com estrutura e tudo mais de Terceira Divisão.
Então, acredito que as responsabilidades e os papeis eu vou delegando no dia a dia mesmo. Minha relação com os jogadores é muito próxima. Converso muito com os atletas individualmente e com o grupo em geral. Também procuro escutar muito também.
O treinador do Guarani diz acreditar que são vários os fatores que definem um resultado no jogo. A qualidade dos atletas é um deles. Mas, que há também as questões fora do campo, como infraestrutura, condições de trabalho que é oferecida aos profissionais e alimentação
Universidade do Futebol – Quando se fala em apresentação de vídeo, análise e avaliação, quais princípios devem ser aplicados para se obter sucesso? Como a tecnologia esportiva se aplica em seu cotidiano com a comissão técnica?
Tarcisio Pugliese – A tecnologia faz parte do nosso trabalho diariamente. Utilizamos para quantificar e qualificar os treinamentos, por exemplo. Utilizo bastante vídeo nos inícios dos processos, principalmente, em relação ao nosso time. Verificar como estamos jogando, posicionamento, modelo de jogo, tudo. Mas, também mostramos de maneira visual muitas informações dos adversários.
Precisamos evoluir também na nossa metodologia de trabalho, referente ao modelo de jogo. O futebol evoluiu bastante, e nós continuamos dependendo muito da individualidade dos nossos atletas, aponta
Universidade do Futebol – Em sua opinião, qual o maior problema e a maior virtude do futebol brasileiro hoje em dia?
Tarcisio Pugliese – A maior virtude é em relação à qualidade dos nossos atletas, que aparecem em grande número. Passamos por um momento de mudanças, de transição, e o jogador aprende a lidar com situações específicas devido a nossa cultura que é favorável e que em outras partes do mundo não acontecem.
Já em relação ao maior problema, acredito que a falta de tempo de trabalho para o treinador brasileiro é uma questão que precisamos melhorar. Além disso, vejo um desequilíbrio enorme entre as grandes equipes e os pequenos clubes do país. Uma diferença de potencial financeiro muito grande e maléfica ao futebol brasileiro. Poderia ser um pouco mais proporcional.
E, por fim, precisamos evoluir também na nossa metodologia de trabalho, referente ao modelo de jogo. O futebol evoluiu bastante, e nós continuamos dependendo muito da individualidade dos nossos atletas.

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