domingo, 18 de agosto de 2013

Por que as arenas de futebol do Brasil não lotam

Por que as arenas de futebol do Brasil não lotam Montagem sobre fotos Banco de Dados/

Antigo Maracanã, 4 de outubro de 2009: 78.409 pagaram ingresso para ver o Flamengo ganhar do Fluminense por 2 a 0. Novo Maracanã, domingo passado: o público pagante do Fla-Flu foi de 29.538.

Concebidas com a promessa de modernizar e impulsionar o futebol brasileiro, as novas arenas ainda lutam para atrair mais torcedores. As médias de público, na maioria dos casos, não são inferiores aos "velhos" estádios, mas a ocupação dificilmente chega a 50% da capacidade, pouco para palcos que custaram fortunas e que tinham a expectativa de conquistar novos consumidores.

Com suas poltronas confortáveis e localizadas em pontos estratégicos, as áreas nobres das arenas são as que recebem menos torcedores e transmitem, para quem assiste pela TV, uma sensação de vazio nos estádios. Menores e com preços mais baratos, os espaços populares costumam encher. Para consultores especializados em esporte, são dois os obstáculos que impedem uma maior presença de público: o preço elevado dos ingressos e a falta de ações de marketing que motivem o torcedor trocar a poltrona de casa pela do estádio. Os operadores se dizem satisfeitos, ressaltam que a gestão de arenas é um negócio novo, que está sendo aperfeiçoado, e acreditam em casas mais cheias nos próximos meses.
Economista e sócio-diretor da Pluri Consultoria, empresa especializada em marketing esportivo, Fernando Pinto Ferreira  acredita que o alto valor das entradas emperra uma maior ocupação das arenas.
– Tem a questão da violência, do calendário, mas o ponto central, no momento, é o preço do ingresso. Isso está absolutamente nítido, é uma questão de ajuste de mercado. Os operadores tinham um cenário muito otimista, mas tiveram um choque de realidade.
Para fazer mais torcedores irem ao estádio, é preciso oferecer novos e melhores serviços. Lindos por dentro, os recém-inaugurados palcos do futebol brasileiro, salvo exceções, ainda sofrem com velhos problemas. Há dificuldades para estacionar e filas para compra de bilhetes ou retirada de tickets.
– Ir ao estádio apenas com o objetivo de apoiar o time só encontra eco nos mais fanáticos. Os estádios vão seguir vazios se (os operadores) continuarem cobrando caro e não entregando um bom produto – ressalta Ferreira, que acrescenta: – Quanto mais grana, mais opções a pessoa tem de fazer com o dinheiro. Ele não tem é tempo.
No Brasileirão deste ano, as médias de ocupação das arenas giram em torno de 40%, número satisfatório para os operadores. No entanto, o estádio cheio traria uma série de vantagens, como angariar novos patrocinadores, além de deixar o jogador e a torcida mais empolgados.

– Se o estádio não lota, desvaloriza o produto, é ruim para a TV e para o patrocinador. É por isso que o Corinthians tem todas as receitas maiores, o produto é mais atraente – comenta o sócio-diretor da Pluri Consultoria.

Marketing para melhorar ocupação
Além do preço não ajudar, falta à maioria das arenas uma estratégia para promover as partidas, como ocorre, principalmente, nos Estados Unidos.
– É um problema crônico fazer com que as pessoas saiam de suas casas para ir aos jogos. As gestões das arenas não entenderam como fazer este trabalho – argumenta o consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi.
A baixa ocupação é crônica nos estádios do país. Sexto maior faturamento do planeta, o futebol brasileiro está longe das melhores médias de público - Brasileirão foi o 18º do mundo em 2012, atrás de países com pouca tradição no futebol, como Estados Unidos, China, Japão e Austrália, além das segundas divisões de Inglaterra e Alemanha.
Em entrevista ao programa Estrelas, da Rede Globo, no final do ano passado, o meia Seedorf, do Botafogo, falou sobre os clarões nas arquibancadas: "Há algo que me surpreendeu no Brasil: o fato de poucas pessoas irem aos estádios de futebol." No último Brasileirão, a média de ocupação foi de 38%. Na Alemanha e Inglaterra, trabalha-se com, no mínimo, 80%.
– Aqui não temos uma música, uma loja para comprar produtos, ações de patrocinadores. O desafio é fazer com o que o torcedor se divirta além do jogo. Na Europa, existe uma cultura de ir ao jogo como parte do entretenimento. Nossas arenas vêm com este intuito – salienta Somoggi.

Brasília eleva a média
Em comparação com o ano passado, a média de público do Brasileirão está cerca de 20% maior. Os valores arrecadados com renda, então, subiram mais de 70% num paralelo com as 14 primeiras rodadas de 2012. Além dos clássicos, realizados nas rodadas iniciais, o fator Brasília foi determinante para a elevação dos números. Desacostumados a grandes jogos, os moradores do Distrito Federal, principalmente os flamenguistas, não se incomodaram em pagar de R$ 160 a R$ 400 para assistir a Santos 0x0 Flamengo, jogo líder em número de torcedores e com a renda mais gorda da história do Brasileirão - R$ 6,9 milhões.
A capital federal teve também o segundo e terceiro maiores públicos. No entanto, à medida que o efeito novidade vai passando, o número de torcedores presentes no Mané Garrincha está caindo. Flamengo 1x1 Portuguesa, no dia 7, teve 12.511 pagantes.


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